Dois Egos: maduro e imaturo
Por Paramahamsa Prajñanananda
Compare o corpo a um veículo. De acordo os textos dos Vedas, ele tem dez instrumentos externos e quatro instrumentos internos. Os instrumentos internos são a mente, o intelecto, o ego e a memória, dos quais o mais debatido é o ego.
As escrituras yogues dizem que o ego é aham karta iti bhavah, que significa a atitude de “Eu sou o doador”.
O eu individual é associado com atividade.
O que é a individualidade?
É o conceito de exclusão dos “outros”. Dizendo “eu sou um ser humano” exclui você dos insetos, animais, minerais etc.
Há exclusões baseadas em gênero, nacionalidade, religião e outros múltiplos conceitos. Todos eles enfatizam o ego.
Como poderemos nos referir a tal instrumento chamado ego?
Por si só, ele não é nem bom nem mau, depende de como ele é usado. Uma faca na mão de um criminoso é má, mas uma faca não mão de um cirurgião é um instrumento de cura.
De forma similar existem dois tipos de ego, maduro e imaturo. Seres realizados são livres do ego. Também se pode dizer que eles têm ego maduro, sem apego, livre, apenas envolvido no jogo, que traz calma, paz e sabedoria para agir em harmonia com os outros.
Um ego não desperto é um ego imaturo e por isso dolorido. O nosso mestre diz que quando a manga é pequena ela permanece grudada na árvore. Quando ela é pequena e verde não tem sabor bom, e até os pássaros que a bicam jogam-na fora.
A mesma manga quando amadurece, muda de cor e aos poucos se solta da árvore. Quando o ego é imaturo, não desenvolvido, é associado com orgulho, vaidade, cólera, ciúmes, hipocrisia, frustração - todos os vícios vêm com o ego imaturo.
Ego imaturo traz escravidão, sofrimento, lamentação, doença, emoções e perturbações.
Como tornar o ego maduro?
Vamos nos referir de novo ao jeito que a manga amadurece. A manga agarrada à árvore falará ao vento “Vou tentar me agarrar à árvore para não cair até que possa amadurecer”. Uma vez que a manga amadureceu não pode ficar agarrada na árvore e mesmo não havendo vento ela cairá. A mensagem é: Eu serei agarrado à fonte, a fonte da minha vida, a fonte da minha existência até ficar maduro.
Se alguém sabe duas coisas – “quem sou eu” e quem são os outros”– o ego amadurecerá. Ego maduro é reconhecido como “não ego” o Eu real – melhor que este estado é possível somente em meditação profunda, em samadhi, ou em sono profundo.
Estarei eu existindo se perder a minha individualidade? Esta é a pergunta que fazemos porque a vida e a morte geralmente são associadas, em nosso cérebro, com a individualidade. Na realidade a existência não está baseada na individualidade, mas depende da respiração. Se não tem respiração, não tem existência.
A respiração é a conexão que nos ajuda a descobrir não somente “eu sou” “isto”, mas também “todos são isto”. Quando há dois há dualidade e envolvimento com ego. Quando há UM, não há dualidade e não há ego.
O amor é possível quando há dois, a briga é possível quando há dois, mas quando há somente um, não há nem amor nem briga nem ego. Quando se realiza esta verdade em experiência íntima sabe-se que o um está em todos e todos estão no um.
Vamos ver então, qual é a força reativa em nossas vidas?
Por causa da existência da alma no corpo, os olhos vêem, os ouvidos ouvem, o nariz cheira, a língua fala, o estômago digere o alimento e as mãos se movem – Tudo é feito pela ação da alma.
Podem os órgãos realizar alguma tarefa sem a respiração?
Poderá a mente pensar?
O intelecto analisar?
Mas o ego se vangloria dos seus atos.
O crédito não vai para o instrumento, mas para a respiração da pessoa que o está usando. Os instrumentos são úteis para realizar a meta desejada.
Quem é o verdadeiro ator?
Kri e ya – Kri significa atividade e ya significa divindade. O reconhecimento e o despertar da verdadeira identidade do divino doador amadurecem o ego.
Muitas pessoas se envaidecem sobre as suas habilidades e talentos. Mas cada geração é beneficiada da sabedoria e da habilidade dos seus predecessores. Ninguém está sozinho. O devoto a Deus sempre dá os seus créditos a Deus, Oh! Deus por sua causa, Oh! gurus por sua causa, eu sou quem sou, tudo pertence a vocês, nada me pertence, este corpo, o tempo, o respiro, a sabedoria, tudo é a Tua dádiva, como posso ter ego, ira e ciúmes?
Quando se vive com atitude de prece permanente, devoção e auto-análise, o ego devagar amadurece e quando ele é maduro ele se torna realizado.
Vamos tentar observar o nosso ego amadurecer.
Tem uma canção bengali que diz:
Oh! Mãe divina, tudo é a Tua dádiva, tudo é o Teu desejo, mas sem o ego eu diria: Tudo é meu.
Oh! divina Mãe, dá-me a sabedoria de entender que Tu és a doadora.
Faça a minha vida livre do ego.
Quero experimentar esta liberdade.
A conscientização da identidade do divino doador
O verdadeiro despertar do divino doador
(tradução dos queridos kriyavans Zari e Imalda) Instituto Kriya Yoga de São Paulo
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